O Tempo (Poema de Mario Quintana)
“A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal…
Quando se vê, já terminou o ano…
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.”
Vamos recomeçar nosso ato de leitura?
Para aquecer, faça a leitura do texto ANGUSTIA, que vem sendo proposto em vários vestibulares e após a leitura, assistam ao vídeo explicativo dessa obra de Graciliano Ramos.
Angústia – Graciliano Ramos
Volto a
ser criança, revejo a figura de meu avô, Trajano Pereira de Aquino Cavalcante e
Silva, que alcancei velhíssimo. Os negócios na fazenda andavam
mal. E meu pai,
reduzido a Camilo Pereira da Silva, ficava dias inteiros manzanzando numa rede
armada nos esteios do copiar, cortando palha de milho
para cigarros, lendo o
Carlos Magno, sonhando com a vitória do partido que padre Inácio chefiava. Dez
ou doze reses, arrepiadas no carrapato e na varejeira,
envergavam o espinhaço e
comiam o mandacaru que Amaro vaqueiro cortava nos cestos. O cupim devorava os
mourões do curral e as linhas da casa. No chiqueiro alguns bichos bodejavam. Um
carro de bois apodrecia debaixo das catingueiras sem folhas. Tinham amarrado no
pescoço da cachorra Maqueca um rosário de sabugos de milho queimados. Quitéria,
na cozinha, mexia em cumbucos cheios de miudezas, escondia peles de fumo no
caritó.
Eu andava
no pátio, arrastando um chocalho, brincando de boi. Minha avó,sinhá Germana,
passava os dias falando só, xingando as escravas, que não existiam. Trajano
Pereira de Aquino Cavalcante e Silva tomava pileques tremendos. As vezes subia
à vila, descomposto, um camisão vermelho por cima da ceroula de algodão
encaroçado, chapéu de ouricuri, alpercata e varapau. Nos dias santos, de volta
da igreja, mestre Domingos, que havia sido escravo dele e agora possui venda
sortida, encontrava o antigo senhor escorado no balcão de Teotoninho Sabiá,
bebendo cachaça e jogando três-setes com os soldados. O preto era um sujeito
perfeitamente respeitável. Em horas de solenidade usava sobrecasaca de chita,
correntão de ouro atravessado de um bolso a outro do colete, chinelo de trança,
por causa dos calos, que não agüentavam sapatos. Por baixo do chapéu duro, a
testa retinta úmida de suor, brilhava como um espelho. Pois, apesar de tantas
vantagens, mestre Domingos, quando via meu avô naquela desordem, dava-lhe o
braço, levava-o para casa, curava-lhe a bebedeira com amoníaco.
Trajano
Pereira de Aquino Cavalcante e Silva vomitava na sobrecasaca de mestre Domingos
e gritava:
- Negro,
tu não respeitas teu senhor não, negro.
Quando o
carro pára, essas sombras antigas desaparecem de supetão – e vejo coisas que
não me excitam nenhum interesse: os focos da iluminação pública, espaçados, cochilando,
píongos, tão píongos com luzes de cemitério; um palácio transformado em
albergue de vagabundos; escuridões, capoeiras, barreiras cortadas a pique no
monte; a frontaria de uma fábrica de tecidos; e, de Ionge em longe, através de
ramagem: pedaços de mangue, cinzentos. À medida que nos aproximamos do fim da
linha as paradas são menos freqüentes. Os postes cintados de branco passam
correndo, o carro está quase vazio, as recordações da minha infância
precipitam-se. E a decadência de Trajano Pereira de Aquino Cavalcante e Silva
precipita-se também.
Estava pegando um
século quando entrou a caducar. Encolhido na cama de couro cru, mijava-se todo,
contava os dedos dos pés e caía na madorra; De repente acordava sobressaltado:
- Sinhá Germana!
Meu pai largava o
Carlos Magno, abria o tabaqueiro, deixava a rede, impaciente:
- Que é que há?
- Homem, você não me
dirá onde está sua mãe?
Aqui mais de uma hora
chamando essa mulher!
- Morreu.
- Que está me dizendo?
Estranhava o velho arregalando os olhos quase cegos. Quando foi isso? Camilo
Pereira da Silva amolava-se:
- Deixe de arrelia.
Morreu o ano passado.
- Tanto tempo! dizia Trajano. E vocês calados. . .
Boa tarde! Trabalhei um dos fragmentos desse Fantástico livro no Classroom, amei estarmos como sempre sintonizada.Parabéns professora!
ResponderExcluirEstamos nos reinventando...
ExcluirGRATIDÃO.
Quero ir na biblioteca pegar livro emprestado 😞
ResponderExcluirSaudades de ir na biblioteca 😓😓😓
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