Minha coluna publicada no Jornal Mogi News nesta
terça-feira aborda a política de privatização e a crise no Amapá.
Caderno Cidade – 09/11/2020
Privatizar pra quê?
Nosso país é
esquizofrênico, não tenho a menor dúvida disso. Basta ver que existe a
convocação de uma carreata pró Trump para os próximos dias. Vão denunciar uma
fraude na eleição americana. Fraude essa amplamente desmentida pelos principais
meios de comunicação dos EUA.É muita vergonha alheia, não?
Mas vamos ao tema do
artigo. Privatização, a palavra mágica dos novos e arcaicos defensores do
estado mínimo, que acham que o estado não deve intervir na economia. Aos que
defendem isso, falta conhecimento histórico. Nenhuma nação no mundo se
desenvolveu sem a participação efetiva do estado. Isso vai de Adam Smith, David
Ricardo e também passa pelo Marx.
No Brasil, o debate
sobre as privatizações não é recente. Na verdade, foi inaugurado ainda no
governo do Fernando Collor, lá nos anos 80. Até porque, aqueles que têm
saudades do regime militar e são a favor das privatizações, não sabem (ou fazem
de conta que não sabem) que os governos militares foram estatizantes.
Mas a grande questão
sobre as privatizações é fornecida pelo cotidiano, pelos inúmeros
acontecimentos. Não vou nem falar de Mariana e Brumadinho. Vamos ao Amapá hoje.
Cidadãos daquele Estado, no extremo norte do Brasil, vivem dias de caos após
quatro dias sem energia elétrica. O apagão atinge 89% do território amapaense,
incluindo a capital, Macapá, além de outros 13 dos 16 municípios do estado. São
mais de 750 mil brasileiros sem energia e com escassez de água, gasolina e com
comércio fechado.
Os danos causados pelo
incêndio ocorrido em estação controlada por empresa privada estão sendo
reparados pela estatal Eletrobrás. Precisou de uma empresa estatal, a
Eletronorte, entrar no circuito para amenizar a situação e devolver energia ao
Estado do Amapá.
Ou seja, o capital
privado arremata a empresa amapaense em leilão, ganha rios de dinheiro com a
privatização, não faz a manutenção devida da rede e, no momento do apagão, é o
Estado que tem que gerenciar o problema?
Ou seja. No Amapá,
bastou uma tempestade e um raio para um incêndio destruir um transformador e
revelar ao mundo o que significa a privatização do sistema de energia elétrica.
E tem gente que defende a privatização da Eletrobrás.
Da mesma forma,
conhecemos os resultados da privatização da Vale do Rio Doce. Capitalista quer
lucro, não só o lucro, mas o maior lucro possível. Para eles é tudo uma questão
de receita e despesa. O que significa menos custo.
Aparentemente é a vida humana.
AFONSO POLA é
sociólogo e professor (afonsopola@uol.com.br)
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