"Minha coluna publicada no Jornal Mogi News nesta terça-feira
fala sobre o desrespeito aos servidores públicos que fiscalizam o cumprimento
das regras estabelecidas em função da pandemia."
Caderno Cidade – 21/07/2020
Autoria no final do artigo. Boa Leitura...
Revelando o caráter
É com frequência cada vez maior que temos acompanhado cenas
reveladoras do caráter de quem as protagonizam. Vivemos em um país extremamente
desigual e com parte da sociedade vocacionada para um comportamento
autoritário, preconceituoso e racista. Essas pessoas, mesmo não pertencendo à
elite, enxergam o país dividido entre a casa grande e a senzala.
Com aproximadamente 80 mil mortes de pessoas infectadas por
covid no Brasil, comportamentos de desrespeito aos procedimentos indicados como
necessários para conter o avanço das contaminações são recorrentes. Geralmente
são aqueles que ainda insistem em negar fatos tão evidentes, são os chamados
negacionistas.
É o caso do casal que estava sem máscara e foi flagrado
desrespeitando um fiscal. A mulher dizia: “Cidadão não, engenheiro civil
formado, melhor do que você”, conforme mostrou uma reportagem do “Fantástico”.
Como se o fato de se ter uma formação atribuísse uma condição de superioridade.
No último final de semana em Santos, outra cena explicita de
ridículo. Um Guarda Civil Municipal abordou um homem que estava sem máscara,
contrariando um decreto nº 8.944, de 23 de abril de 2020, editado pela
prefeitura de Santos. O homem que, durante a abordagem se identificou como
desembargador, ao ser informado sobre o decreto, disse que decreto não era lei
e, caso fosse multado, faria o mesmo que fez em outra abordagem. Rasgaria a
multa a atiraria a multa rasgada na cara do Guarda Civil. Supostamente ele
ligou para o Secretário de Segurança de Santos para reclamar da abordagem e
disse que o agente municipal é analfabeto.
Alguns costumam
indagar: de onde surgiram essas pessoas? Na verdade elas sempre estiveram em
seus lugares. É que a prepotência, a arrogância e o autoritarismo praticados
por elas eram testemunhados por poucas pessoas.
Hoje é diferente. A tecnologia criou outra realidade, um
mundo mais instantâneo. Um celular é um
equipamento que tem inúmeras funções e até serve como telefone. Com ele é
possível fotografar, gravar áudio e vídeo e distribuir imediatamente nas
diversas redes sociais.
Mas o que mais me intriga é perceber que a arrogância e
prepotência dessas pessoas é tanta, que isso as impedem de perceber que estão
exibindo orgulhosamente os seus mais podres defeitos e revelando seu caráter.
AFONSO POLA é sociólogo e professor (afonsopola@uol.com.br)
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